quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
prêmio Dardos
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
brasil brasileiro
meu mulato inzoneiro
vou cantar-te nos meus versos
o Brasil samba que dá
bamboleio que faz gingar
o Brasil do meu amor,
terra de nosso senhor
Brasil pra mim, Brasil pra mim
ah! abre a cortina do passado,
tira a mãe preta do serrado,
bota o rei congo no congado
Brasil pra mim, Brasil pra mim
deixa cantar de novo o trovador,
América olha a luz da lua
quando é canção do meu amor
quero ver essa dona caminhando
pelos salões arrastando o seu vestido rendado
Brasil pra mim, Brasil pra mim
Brasil terra boa e gostosa
da morena sestrosa
e de olhares indiscretos
o Brasil samba que dá ...
ah! esse coqueiro que dá coco
onde amarro a minha rede
nas noites claras de luar
Brasil pra mim, Brasil pra mim
ah! ouve essas fontes murmurantes
onde eu mato a minha sede
e onde a lua vem brincar
ah! esse Brasil lindo e trigueiro
é o meu Brasil, brasileiro.
terra de samba e de pandeiro
Brasil pra mim, Brasil pra mim
oras bolas
a formatura
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
a casa
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
querido diário,
terça-feira, 25 de novembro de 2008
o fraco
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
São Paulo terá mais duas bibliotecas temáticas
o quê: Mário Schenberg - ciências
onde: rua Catão, 611, Lapa
atendimento: segunda a sexta, das 8h às 17h e sábado das 9h às 16h
contato: 3672-0456
o quê: Viriato Corrêa - literatura fantástica
onde: rua Sena Madureira, 298, Vila Mariana
atendimento: segunda a sexta, das 8h às 17h e sábado das 9h às 16h
contato: 5573-4017 e 5574-0389
o quê: Alceu Amoroso Lima - poesia
onde: rua Henrique Schaumann, 777, Pinheiros
atendimento: segunda a sexta, das 8h às 17h e sábado das 9h às 16h
contato: 3082-5023
o quê: Belmonte - cultura popular
onde: rua Paulo Eiró, 525, Santo Amaro
atendimento: segunda a sexta, das 8h às 17h e sábado das 9h às 16h
contato: 5687-0408
o quê: Hans Christian Andersen - contos de fadas
onde: avenida Celso Garcia, 4142, Tatuapé
atendimento: segunda a sexta, das 8h às 17h e sábado das 9h às 16h
contato: 2295-3447
o quê: Cassiano Ricardo - música
onde: avenida Celso Garcia,4200, Tatuapé
atendimento: segunda a sexta, das 8h às 17h e sábado das 9h às 16h
contato: 2092-4570/9952
o quê: Roberto Santos - cinema
onde: rua Cisplatina, 505, Ipiranga
atendimento: segunda a sexta, das 8h às 17h e sábado das 9h às 16h
contato: 2273-2390 e 2063-0901
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
quem quiser que conte outra
Durante onze dias, a cidade de São Paulo foi palco de histórias. Bibliotecas e parques receberam diversos artistas do 4º Festival a arte de contar histórias. Consegui acompanhar apenas três eventos, mas a experiência foi intensa e única. Acompanhem no texto a seguir:
cultura indígena
Como já contei aqui neste espaço, a Biblioteca Hans Christian Andersen é especializada em contos de fadas. Por isso, quando você visitá-la terá a impressão de fazer parte de um deles. Há um cantinho especial com mesas coloridas para as crianças, um soldadinho de chumbo com cerca de quatro metros de altura, tapetes azuis e estantes de livros em forma de castelo.
Na primeira apresentação que acompanhei, as crianças se espalharam pelo tapete, enquanto os adultos, mais contidos, ocuparam as cadeiras. Eu e alguns amigos do curso de contadores seguimos os pequenos. A atriz Gabriela Hess conduziu o conto A noite e o sol, Tainá, nascemos para brilhar com doçura e sensibilidade. Pés descalços, trajes brancos e olhar atento para cada reação da platéia. Nos livros sobre essa arte, os autores dizem que o contador deve ser a própria história. E eu vi cada personagem ali.
Sentada no chão, Gabriela chamou a todos para contar a segunda história. "Uma aluna escreveu e eu achei bonito. Queria que todos participassem. Vou contar o começo e vocês dão a seqüencia", disse. Era uma história de amor entre dois índios de tribos rivais. Teve criança tímida, inocente, intelectual e sapeca. Um garoto de sorriso bangela se divertia sozinho. O motivo da graça era o prazer em deixar a índia careca. Assim, quando chegava a sua vez, não hesitava e dizia "ai ele rapou o cabelo dela". Gargalhadas.
Nessa hora, os pais que estavam presentes já se soltaram um pouco e resolveram participar junto com os filhos. Como a temática da contadora foi indígena, ao final ela ensinou uma dança circular para celebrar a natureza, a grande mãe. Água, terra e fogo foram representados no meio da roda. De mãos dadas:
Mãe eu te sinto sobre os meus pés
Mãe eu escuto teu coração bater
Heya, Heya, Heya, Heya, oh
Heya, Heya, Heya, Heya, ooooh
Terra pe meu corpo
Água é meu sangue
Ar é meu sopro
e fogo é meu espírito
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
percussão
toque-me, sou teu
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
indispensáveis
homenagem
terça-feira, 7 de outubro de 2008
para acessar
É incrível como a pesquisa na internet te leva para lugares que você nem imaginava existir. Um texto pode ter um link para algum autor, que indica um livro e assim vai. Quando você percebe, nem sabe por onde a pesquisa começou. Eu, por exemplo, cheguei num link dentro do site da Secretaria da Cultura, meio sem querer. O melhor desse acontecimento é que esse espaço será extremamente útil para as minhas pesquisas e buscas de cursos e oficinas. Estou tão feliz! Aproveito para repartir essa alegria com vocês. Só clicar aqui.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
presença corporal
Há alguns anos, quando comecei a ler sobre yoga e dança contemporânea, o tema que dá título a esse texto me foi apresentado. Encontrei-o em alguma publicação ou apresentação de curso relacionado à dança. Ah, e como eu tinha medo de participar de uma aula dessas! Na verdade, existia mais uma sensação que envolvia a tal da presença corporal. Era a curiosidade. Vontade de conhecer, com medo do desconhecido. Resumindo, um sentimento que quase 100% das pessoas têm, vamos ser sinceros. O medo é o que nos firma numa situação de segurança ilusória, isso sim.
Com a prática da yoga, esse receio foi transformando-se em neblina. Você está dirigindo na serra e a neblina surge. Você deixa de enchergar o seu trajeto, mas logo ela se dissolve. Por meio da famosa e divulgada filosofia milenar, me soltei e permiti que meu corpo se ampliasse. Sem vergonha nem julgamento.
Assim, no último sábado de setembro, quando Andréa Egydio, mestre em artes cênicas pela USP, anunciou que o tema daquela aula do curso de contadores de história seria a dita cuja, fiquei tranqüila. Nas primeiras duas horas, Andréa pediu para que prestássemos atenção na respiração. Sentir o ar entrando e saindo dos pulmões. Observar a posição da coluna.
O próximo exercício foi tão relaxante que quase dormi em pé. Organizou-se duas filas indianas e tivemos que reparar no andar do colega da frente. Aí fazíamos o seguinte: inspira, expira, anda meio passo. "Serão apenas cinco minutos, mas vocês vão achar que foi uma eternidade", alertou a professora. O ato de reparar no ar que entra e sai acalma os sentidos.
Depois, fizemos duplas e ficamos cara a cara com o amigo. Nessa hora eu pensei que ela fosse fazer a brincadeira do quem ri primeiro. Boba eu, né? E já ameacei a rir. Mas não foi isso, não. Era para repararmos no corpo do outro e encontrar qual região ainda estava tensa, rígida.
Durante a pausa para o café, fiquei me perguntando de que forma iríamos aplicar esses conceitos na hora de contar uma história. Eu não vi muita coisa. E foi bom, pois me surpreendi. Todos sentaram no chão, em formato de platéia e, alguns voluntários ficaram em pé, um por vez. Justamente para mostrar o momento da chegada de um contador de história.
A maioria dos cobaias ficou tenso. Corpo duro, olhos sérios, lábios cerrados. Se eu tivesse sido chamada para estar lá, também ficaria dessa forma. Não é nada fácil. Conforme a professora passava as instruções do tipo "relaxa, respira", eles foram se soltando. "É na chegada que você dá o tom da sua apresentação. Você pode cativar ou não o seu público", explicou Andréa.
Com essa demonstração, comecei a entender em que lugar entra a respiração. É literalmente a presença corporal. Ou seja, estar presente ali com seu corpo e suas intenções. Por exemplo, você estende o braço e sente de fato essa estensão. "O importante aqui é a qualidade do gesto e não a quantidade. De que adianta mexer o corpo inteiro, sem estar presente, sem receber um retorno da platéia?", questionou.
domingo, 5 de outubro de 2008
Stanislaw Ponte Preta
- Viver é fácil; saber viver é que é dureza.
- Se não existisse o mau gosto ninguém plantava jiló.
- Quem não arrisca não petisca, quem não chora não mama, quem não morre não vê Deus.
- As crises políticas nacionais são tratadas de maneira tão sensacionalista pela imprensa brasileira que, se a gente estiver no estrangeiro, ao ler um jornal brasileiro tem a impressão que, ao voltar, não encontrará mais o país. (Pelo jeito, nada mudou)
- Malandro prevenido dorme de botina.
- Se ginga fosse malandragem o pato era o rei dos malandros.
Quem quiser conhecer o conto que li quando era criança, acesse aqui. Divirtam-se!
paixão
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
estalo
consumindo todos os dias
por completo
por inteiro
um prato
que foi colocado
bem a minha frente
isso é teu!
má digestão
pré-conceitos. padronizado.
e quando o espelho se aproxima
ponto de interrogação. ?
ponto de exclamação. !
ponto.
sem um ponto
que seja final.
yo
cada uma de um tamanho diferente
uma dentro da outra.
uma por uma.
revirada
revista
remexida
reencontrada
revisada
reeditada
revisitada
revitalizada
revivida.
lá fora
doença, médico
frio, casaco
conhecimento, livro
lágrimas, papel
sujeira, água
viva!, taça
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
personagem, um corpo que age
O objetivo do exercício era criar uma identidade com o nome por meio da linguagem corporal. O próximo passo foi ouvir sobre o colega ao lado e apresentá-lo aos demais. Com um minuto para falar, teve gente que foi direto ao ponto, como por exemplo, “essa é fulana, me contou isso e aquilo”. Já outros deixaram a narrativa com cara de estória (com e mesmo) e incorporaram a (o) “personagem”. Para Solange Grande, todos os alunos completaram a tarefa, porém, alguns detalhes não entraram em cena. “É essencial conhecer a história que será contada e tentar interagir com o seu público”, disse Grande.
Uma das alunas relatou que o nervosismo virou o grande protagonista da sua história. “Nesses anos de experiência como contadora, posso dizer que nunca fiquei totalmente tranqüila. Sempre existe um pouco de ansiedade e nervosismo”, compartilhou a professora. O truque, nesses casos, é utilizar a sua fragilidade como uma ferramenta amiga. Quê, como assim? “Pessoal, eu tenho uma história para contar hoje, mas eu tô tão nervosa!”, exemplificou Grande.
Sabe aquela expressão corpo vivo? Todos foram convidados a senti-la. Primeiro, aquietando a mente e prestando atenção na respiração. Prática recorrente nas aulas de yoga. Segundo, caminhar pela sala e reparar na forma como você e seus colegas andam, olham e respiram. Recursos que podem ser utilizados na hora de compor o seu personagem. O jeito de andar, de falar, de mexer os olhos e de sentar fazem toda a diferença. Novamente, é o conceito de criar uma identidade com o seu corpo.
No final, formaram-se grupos de seis pessoas a fim de criarem uma narrativa gestual. Gargalhadas vieram à tona. Todos os futuros contadores de história viram objetos, lugares e pessoas que não estavam na sala. Será que enlouqueceram?
Dica de leitura:
- O ofício do contador de história, Gislayne Avelar Matos e Inno Sorsy
terça-feira, 9 de setembro de 2008
ah...se te contasse
Em agosto deste ano fiquei sabendo que eles promoveriam, agora em setembro, um curso de formação de contadores de história, com duração de três meses e meio, de graça. Fiz minha inscrição na biblioteca, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo. Descobri que eles ofereciam apenas 35 vagas e a minha inscrição já estava no número 129.
- Como será feita a seleção?, perguntei ao simpático atendente
- Ah, moça, isso é com a Secretaria da Cultura. Você preenche esse papel, explica quais são os seus objetivos e boa sorte, respondeu
Desejei-me sorte também. Na última sexta-feira do mês de agosto, dia 29, liguei para a biblioteca para saber se a lista de selecionados já estava pronta. A moça que atendeu me disse que já ia me ligar, mas por ansiedade, liguei antes.
- Parabéns, você foi selecionada!, uma voz vibrou do outro lado do aparelho, tão feliz quanto eu
Ao todo foram 412 inscritos para 35 vagas. Esse é o segundo curso de contadores de história promovido pela Secretaria da Cultura na Hans Christian Andersen. Sábado, dia 6, foi o primeiro dia de aula. O encontro aconteceu na sala que leva o nome da crítica literária e professora Nelly Novaes Coelho, que tivemos o prazer de conhecer.
As três primeiras horas de aula foram reservadas para que todos os alunos se apresentassem. Como já era de se esperar, a maioria tem formação em educação, já trabalha com crianças ou conta histórias. Mas também há pessoas de outras áreas e experiências diversas, o que deve enriquecer ainda mais o curso. Literatura, educação, fantasia, magia, música e teatro foram os assuntos levantados pela roda de participantes. Prestei atenção em cada depoimento, na ânsia de colher um pouquinho de cada história. A delícia desses momentos é a troca de expectativas, de esperanças, de olhos brilhantes que ocorrem entre as pessoas.
Na hora do café (adoro!), conheci a jornalista Viviane Pascoal que acabou de lançar, em parceria com Arnaldo Mota, o livro Vidas em Retalhos, sobre a história de meninos de rua em Natal, no Rio Grande no Norte. Em seguida, recebemos Nelly Novaes Coelho, uma senhora de 80 anos, cheia de vida e de projetos. Que fôlego! Bom, leitores, a minha idéia até o final do curso é relatar um pouco sobre as aulas, indicar autores, livros e textos sobre literatura no geral, literatura infantil e infanto-juvenil. Espero que gostem! Por hoje, deixo alguns, citados por Nelly:
- Vergílio Ferreira
- Clarice Lispector
- Machado de Assis
- José Saramago
- Fernanda Lopes de Almeida
- O sofá estampado, de Lygia Bojunga
- Gabriel Perissé
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
desafio
já aviso que o caso é sério. O último livro que consegui ler inteiro, da capa a última página onde constam os dados sobre a impressão da obra, foi em março. Ai que vergonha! Pois é. Uma tristeza mesmo. Mas não é por falta de leitura. Eu leio durante o expediente inteiro de trabalho, leio jornal, revista, placa de rua, extrato bancário, planfeto de dentista, rótulo de shampoo, letreiro de ônibus, spam, instruções para estourar pipoca no microondas (!) e até pessoas. Livro que é bom, nada. Não foi por falta de tentativa. Já tentei começar um bocado. Chego no máximo até a página 30. Será que é algum sinal? Não, não acredito nessas coisas. As histórias são boas, eu quero saber sobre elas. Vou contar como funciona: antes de ir trabalhar, eu seleciono um livro para ler no caminho. E cada dia é um. Confesso que isso nunca me aconteceu. Eu sou fiel. Leio cada página, mergulho na história, penso sobre os personagens. Já misturei a ficção com a realidade. Por exemplo, lembro de alguma fala do personagem ou de alguma situação e esqueço que li no livro, acho que foi alguém que me disse. Só depois caio na real. Ops, são só palavras. Ou não, né. Enfim, contei tudo isso a vocês pois quero propor um desafio. Pronto, descobriram o porquê do título de hoje. Peço, gentilmente, que me enviem sugestões de livros. Olha, a minha estante está cheia deles, mas tá difícil. Só para facilitar a vida de vocês. Eu quero me envolver com a história, quero me apaixonar por ela. Se algumas dessas sugestões me proporcionarem isso (sim, eu sei que não depende apenas delas, depende de mim), a pessoa que sugeriu ganhará uma caixa de bombom. Um prêmio nada motivador, talvez. Mas pensem: alguma vez vocês já participaram de uma promoção com um prêmio desses? Não, né? Não deixa de ser uma novidade.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
baú
terça-feira, 29 de julho de 2008
fé
terça-feira, 22 de julho de 2008
avó
essência que se espalha
se dilui pela vida afora
cheiro de velhice
de banho tomado em banheiro
de azulejo cor de rosa
toalha do bazar da igreja
sabonete alecrim
pele cor caramelo
com marcas do tempo
com veias azuis
e pés inchados
corpo com odor próprio
de avó mesmo
inconfundível
único
quarta-feira, 16 de julho de 2008
interpretação
segunda-feira, 14 de julho de 2008
o outro
segunda-feira, 30 de junho de 2008
o homem que não chora
quarta-feira, 25 de junho de 2008
pé descalço
segunda-feira, 23 de junho de 2008
pedido de desculpas
terça-feira, 17 de junho de 2008
anotações na madrugada
segunda-feira, 26 de maio de 2008
neguinho
doce, sem personalidade.
te esperei por tanto tempo
que saudades do calor
que só você me dá.
do conforto que sinto
quando estou contigo.
venha logo, venha.
meu pretinho mais gostoso
uma revista, um livro,
um dia ensolarado
num canto qualquer.
te saboreio sem dó de ti
te experimento todos os dias
com o prazer de sempre
meu neguinho cheiroso.
a tarde
sua voz é a expressão
dos músculos, dos ossos
da derme, epiderme e células
vivas em teu ser
um pulsar da alma
a resposta mais sincera para
quem é você?
sou um corpo que balbucia
palavras de vida, de vontade
de viver e ser assim...
no meio da multidão.
um fá, um ré, um sol
talvez um si ou um lá.
não importa. os sentidos
acordam, ficam despertos.
o braço desliza, as pernas
de um lado para o outro.
o movimento anterior não será
repetido da próxima vez.
manual de instruções dirá:
pegue o que está sentindo
agora e expresse.
não julgue, não. Apenas você.
um desenho, um rabisco com
canetinha da pré-escola.
uma palavra, uma história
com quinhentas páginas.
um gesto, uma atitude,
uma opinião. e solte.
solte tudo ao vento.
um sopro. sopro de vida.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
pão doce
por seus gestos e
seu coração. Doçura,
por suas mão sujas.
por seu silêncio acolhedor.
não entendia de economia, geografia e
tão pouco de negócios.
compreendia, sim, o ser humano.
humildade registrada em sua identidade,
olhar de criança sapeca
querendo brincar e sentir
a beleza da vida.
em dia de festa
se enfeitava todo para receber
seus amores e ser amado.
barba feita, água nos cabelos e sapato lustrado.
não sorria com os dentes,
sorria com todo o corpo.
com os braços, os olhos e
com seu grande coração.
coração maior nunca vi.
até na hora do adeus
quis poupar a tristeza
daqueles que amou.
eu não te vejo,
me esquece, me deixa,
para eu poder te esquecer
e te amar para sempre.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
conversa
o corpo espera por ela.
compaixão, em forma de
desejo, que lhe chama.
dois segundos, apenas.
o suficiente para tua alma
pecadora, que derrama
lágrimas no teu peito.
o retorno para casa.
sabes o que sente e
porque ages assim.
lenta, respira. seco, olhos, seco.
primogênito
o chão, esperançoso, recebe os cacos.
impressões mal interpretadas
ou, apenas, o tempo.
a rosa sempre teve espinhos e
o mundo tem os dois lados.
onipresença. Deus, será?
tudo é quente e frio.
a estrada com buracos é longa
bodhi, possível, há de surgir,
de ficar, adormecer, esparramar e
molhar o caule do amanhã.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
sem título
segunda-feira, 5 de maio de 2008
canção vespertinha
terça-feira, 29 de abril de 2008
jogando no quintal
as seringueiras
quarta-feira, 23 de abril de 2008
o vazio
o sonhador
segunda-feira, 14 de abril de 2008
leitura vespertina
Velhos retratos; receitas
de carurus e guisados;
as tortas Ruas Direitas;
os esplendores passados;
a linha negra do leite
coagulando-se em doçura;
as rezas à luz do azeite;
o sexo na cama escura;
a casa-grande; a senzala;
inda os remorsos mais vivos;
tudo ressurge e me fala,
grande Gilberto, em teus livros.
quinta-feira, 27 de março de 2008
impotência
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
ciúmes
À espera do marido, João, há pouco mais de vinte minutos, não conseguia conter a ansiedade e os pensamentos.
“Ele foi se encontrar com a vendedora da loja de jóias e se atrasou.”
Joana, a tal vendedora, era uma mulher de trinta e pouco anos. Casada, mãe de dois filhos. Desde que ela sorrio para o marido na padaria e pronunciou um inocente “Olá, como vai?”, a esposa o encheu de perguntas sobre a origem da mulher e agora não consegue pensar em outra coisa.
“Com certeza eles têm um caso. Deve ser por isso que João diz ter aquelas reuniões de terça à noite, só pode ser.”
O marido conheceu Joana quando voltava do trabalho e resolveu olhar a vitrine da loja. A aliança de 10 anos de casado já estava apertada, devido aos quilos a mais, e ele pensava em trocá-la, caso sobrasse algum dinheiro no fim do mês.
Não havia reparado na vendedora, quando Joana se aproximou:
- Olá senhor, posso ajudar?, perguntou com a presteza de uma boa funcionária.
- Olá...é....estava olhando essa aliança aqui. Bonita, né?, respondeu embaraçado.
- Sim. Essa é uma das mais caras que temos aqui na loja.
- Entendo. É... eu só estava olhando mesmo, se explicou com um pouco de vergonha.
- Só por curiosidade, quanto custa?
- Mil e duzentos reais. Podemos parcelar em até 12 vezes, se o senhor quiser.
- Ah sim. Obrigado. Até logo.
Com o salário que ganhava para auxiliar um advogado, seria difícil conseguir comprar aquele anel. Pensou até em parcelar em 12 vezes, como a moça havia sugerido, mas não era adepto a esse tipo de pagamento. Era do tempo do dinheiro vivo. Se não tem, não compra. E não tem conversa.
Desde aquele fim de tarde, passara algumas vezes na frente da loja, mas não possuía coragem para ficar apenas olhando os produtos. Tinha receio e medo de si mesmo.
“Vou acabar comprando aquela aliança. Adelaide vai ficar zangada por ter gasto um dinheiro que poderia pagar a conta de luz ou fazer o supermercado do mês. Melhor não.”
Contido nos seus reprimidos pensamentos, nem imaginava que a mulher não parava de pensar em Joana e jurava, por Santo Expedido, divindade da qual tinha muita fé e respeito, que o marido a traía.
Beijos ardentes. Declarações de amor. Presentes. Carinhos e confidências. Adelaide fantasiava. E, assim, quando o marido chegava do trabalho, não conseguia conter o ciúmes.
- Oi Dê – abreviação carinhosa que concedeu à esposa desde os tempos de namoro – como foi o seu dia?.
- Normal, respondeu friamente sem levantar o rosto do feijão que estava “escolhendo” para cozinhar naquela noite.
- Nossa, estou tão cansado hoje. Bem que você poderia fazer aquela massagem nas minhas costas, né? Aquele remédio pra dor não está adiantando muito, disse tentando estabelecer um diálogo com a esposa.
“Seu vagabundo. Dorme com a outra e ainda vem me pedir para fazer massagem?”, pensou indignada. A cada palavra proferida por João, Adelaide tinha vontade de gritar e dar pontapés na mesa, tamanha a sua revolta e o seu ciúmes que corroia o seu coração e a sua mente.
E, em vários momentos, inventava um assunto só para fazer ciúmes ao marido, que assistia o jornal da noite tranqüilo que só. Nessa hora, o tom irônico em sua voz tomava conta do ambiente:
- João, conheci um rapaz muito simpático na padaria hoje, provocou.
- Ah é? O que ele faz?, perguntou.
- Ele é pintor. Deve fazer uns quadros lindos. Ele é tão educado e gentil, disse com sarcasmo.
- Poxa, que bacana. É bom saber que esse bairro está sendo freqüentado por pessoas cultas e de boa índole. Com isso, o valor dos imóveis sempre aumenta. Sabia?, disse.
- Sabia, João, sabia. Vem comer logo, senão o jantar esfria, pronunciou essa frase com sentimento de desprezo tão profundo que sentiu o coração doer.
- Hum...estou com uma fome, exclamou o marido.
E os meses passavam assim. Adelaide com sua angústia solitária...a cada dia novos pensamentos surgiam. Ela envelhecia sem saber direito o porquê.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
amor de mãe
A cada esquina, uma história diferente, mas que se completam e acabam fazendo algum sentindo. Com o avanço das horas, as ruas ficam cada vez mais vazias. Semelhante aos dias de chuva forte, quando as pessoas se recolhem em suas casas, no trabalho ou em algum canto qualquer. Nem dá para imaginar que nos outros cantos da cidade o cenário é diferente. Várias cidades dentro de uma só. Às vezes é difícil conviver com todas elas ao mesmo tempo. Mas a gente tenta. Ou finge que tenta.
Cruzamento da avenida Rio Branco com a avenida Ipiranga. Vermelho em evidência. Corpo à mostra. Batom. Unhas compridas. Salto alto. Música. Mistério. Sexo.
Ao lado, homens e mulheres ganham a vida deixando outros homens e mulheres mais bonitos. Corte masculino? R$ 10. Corte feminino? R$ 20. Pé e mão? R$ 20. Roupa branca. TV ou rádio ligados. Uma fofoquinha aqui... outra ali...mas o trabalho é intenso. Loiro. Castanho. Castanho escuro. Grisalho. Branco. Loiro claro. Loiro claríssimo. Cereja. Caju. É um festival de cores e mais cores.
Olhos mel. Pele parda. Castanho, era o cabelo. Compridos e bem ajeitados com uma fita elástica da cor preta. De segunda a sábado ela se acomoda em seu banquinho. É banquinho mesmo, pois além da altura, é pequeno de largura. Isso só para alcançar as mãos de suas (seus) clientes. Acetona para retirar o esmalte anterior. Creme sob as unhas para amolecer a cutícula. E bota a mão na água. E fica lá um tempo. Não tira antes, não. Senão, não dá pra tirar a cutícula direitinho. E toca tirar cutícula. Lixa. Base, e quando necessário, até base fortalecedora. Só para as unhas ficarem mais fortes. Massagem. Às vezes, sai até bife dali. E entre uma mão e outra, um bocadinho de prosa:
- Você é de São Paulo mesmo?, pergunta com sotaque gostoso do Nordeste.
- Sou sim. Por que?, respondo e lanço outra pergunta com curiosidade.
- Porque você é tão calma pra quem nasceu em São Paulo. Parece que é de outra cidade.
Sorrio. A resposta me surpreendeu. Respondo:
- E você, não é de São Paulo, né?
- Sou da Bahia. Nasci numa cidadezinha no interior da Bahia. Cidade da roça, sabe?
- Mora aqui faz muito tempo?
- Vim pra São Paulo quando tinha 16 anos.
De certo fiz uma expressão de espanto e disse:
- Nossa! Você veio com quem?
- Oxê, vim sozinha mesmo. Com 14 anos já sai da casa dos meus pais lá na Bahia e fui trabalhar em casa de família. Meus pais ficaram doidinhos, mas hoje eles já se acostumaram com o meu jeito. Eu faço tudo que eu quero, não gosto de depender de ninguém, não. E sempre quis ter meu dinheirinho, pra comprar as minhas coisas.
- Tá certo. Eu também sempre gostei de ter as minhas coisas. É muito bom trabalhar e ter o dinheirinho da gente mesmo. Não tem coisa melhor, respondi aprovando a idéia da minha colega.
- Hum...ainda tenho que sair e ir no shopping comprar a mochila da minha filha.
- Quantos anos tem a sua filha?
- 13 anos. Ela disse que não quer mais a mochila da Hello Kitty, agora ela quer a mochila da PUC. Disse que viu na televisão e que essa mochila combina mais com ela.
Ela me contava isso com a típica preocupação de mãe que deseja agradar o filho a qualquer custo. Ainda mais ela, que teve uma infância simples. É natural que satisfaça todos os desejos da filha. E a filha virou o assunto principal. Me contou que a menina faz inglês, catecismo e que passou com notas boas no colégio. Seus olhos brilhavam...
Quando falou das correções que algumas vezes precisava submeter à menina, era como se vivesse a situação novamente. Mãe coruja e ciumenta.
- E quando a sua filha aparecer com um namorado com casa?, provoquei.
- Deus me livre. Não quero nem pensar nisso. Já falei pra ela: você vai estudar primeiro, depois você pensa em namorar.
A gente sabe que nem sempre as coisas acontecem na mesma ordem. Mas tudo bem. É um direito de mãe.
- Não deixo ela pegar ônibus sozinha. Acho que só ano que vem, quando ela fizer 14 anos.
Lembrei quando eu também não podia sair na rua sozinha. Muitas vezes eu queria comprar um pão e a única coisa que eu podia fazer era esperar minha mãe ou meu pai chegarem do trabalho. A rua ali toda convidativa e eu olhando pela janela do quarto. Achei engraçado quando ela me contou isso e sorri com satisfação e nostalgia.
10 minutos depois e o meu lugar foi ocupado por outra pessoa.
- Obrigada. Volte sempre.
- Obrigada. Corre pra dar tempo de comprar o presente da sua filha.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
madrugada
Rumo ao Centro, um homem que aparentava os seus quarenta anos rompe o silêncio:
- Boa noite, diz com sorriso amigável.
- Boa noite, respondo de prontidão.
- Aceita uma bala? – reparo que é Halls, sabor cereja. Duas coisas de que não gosto. Agradeço a gentileza.
- Se a senhora quiser trocar a estação (de rádio), fique à vontade. Ou se quiser desligar também.
- Por mim, está tudo bem. O senhor gosta de trabalhar nesse horário?, completei.
- Até que não é ruim, sabe?! As horas passam rapidinho...tem que trabalhar, né? E você?
- Ah...eu também. Acho que já me acostumei a trocar o dia pela noite, sorrio.
- É, a gente tem que trabalhar. Eu, por exemplo, já fiz de tudo. Não sei quantos anos você tem, mas eu trabalho há quase trinta anos. Já fui funcionário, já tive meu próprio negócio, que infelizmente não deu certo. Mas graças a Deus eu sempre consegui dar uma situação confortável pra minha família. Eu não tenho dinheiro, não sou bem de vida. Mas, tudo que eu posso eu consigo.
- Tem que batalhar mesmo. A gente só consegue as coisas assim – nesse momento, lembrei de uma série de coisas que já fiz e disse:
- Eu nunca imaginei que um dia estaria aqui, mas olha só como a vida é engraçada.
- É, moça...a gente tem que aproveitar as oportunidades. E olha que elas batem na porta somente uma vez, aconselhou meu companheiro da madrugada.
Apesar das idéias clichês, há um fundo de verdade em tudo isso.
- Boa noite, bom descanso e até um dia, finalizou a conversa.
- Boa noite pra você também. Até mais.