segunda-feira, 23 de novembro de 2009

visita

disseram-me que existe uma menina dentro de mim. ela anda com os pés descalços, usa vestido florido e seu cabelo segue o ritmo do vento.

reflexão

no poço, onde as águas profundas se espalham, nascem diálogos. angústias, perguntas e respostas sobem à superfície. fazem-me companhia num dia qualquer.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

sentido

o sentido de viver está nas pessoas que amamos, nos momentos felizes, nas sensações que jamais deixam a nossa memória e na vida que flui na sua mistura de profundidade e beleza.

poema

num jogo voraz, a mente é coberta de pensamentos. o corpo e a alma se entregam às sensações. que vem. que vão. a escrita, que nem sempre acontece em forma de poema, torna-se a porta, o caminho. o que era abstrato e incompreensível ganha forma, textura, sabor e cheiro. é um processo de libertação, de entrega e partilha. a inspiração é quando tudo rasga o peito, insiste em sair. voar por aí.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

frenética

minha visão medíocre da vida insiste em buscar a certeza. o caminho escrito num papel charmoso com descrições de um seguro felicidade, seguro opção correta, parcelado em 12 vezes sem juros, ou qualquer coisa do gênero. depoimentos. leitura de histórias que escondem pistas e segredos de como fazer as atitudes e escolhas valerem a pena. isso serve para quê mesmo? essa pergunta não sossega. deixo, aos poucos, um gesso pesado envolver o meu corpo. tento me livrar dessa massa, e o movimento me causa dores de cabeça. queria saber com quem aprendi que dois mais dois são quatro. e não cinco, dez, entre muitos outros.

terça-feira, 30 de junho de 2009

tentativa...

Chuva ácida? O que é isso? Eu era apenas uma criança de nove anos quando ouvi, pela primeira vez, esse conceito. Aula de ciências sociais (é, naquela época a disciplina de geografia recebia esse nome). A expressão saiu da boca de professora Flora, uma senhora de quase 50 anos, cabelos curtos tingidos de preto, óculos, roupas largas e odor de cigarro. Ela explicou, acredito que diversas vezes, o que era uma chuva ácida, mas só fui entender anos mais tarde. Quer dizer, a imagem que eu tinha de uma chuva ácida não era de todo errada, mas naquele momento não fiz associação alguma com meu futuro. Afinal, era uma pirralha e só queria saber de brincar. Espere, caro leitor. Isso não quer dizer que não estivesse nem aí para o meio ambiente. É que a forma como ela apresentou o assunto, digamos que foi chata. Não me lembro se Flora, que também é o coletivo de plantas, estava preocupada com isso. Desmatamento, queimada e aquecimento global foram outros temas ouvidos ali, naquela pequena escola estudual da zona norte de São Paulo. Esses assuntos pareciam tão distantes da minha realidade infantil! Estudava para as provas com base na decoreba.

- O que é chuva ácida?, perguntava para mim mesma em voz alta, na maioria das vezes em frente ao espelho de casa
- Chuva ácida é uma chuva formada por diversos ácidos que agridem o meio ambiente, respondia

Recebia um sinal de certo na folha da avaliação e pronto. Satisfação total. Passei de ano. Como vocês podem notar, o método de estudo que escolhi não foi um dos melhores. Ninguém é perfeito. Numa tarde dessas, lembrei de uma outra professora, a Mônica. Mais nova do que Flora e mais alta. Ah, e mais bonita também. Enfim, ela era a tia de português. Proparoxítona? Hã? Sujeito e predicado? E, podem acreditar, educação ambiental. Se dependêssemos dos homens que andam em carros com placas pretas, a nossa sala de aula seria encardida e fedida. Mônica sabia disso.

Logo nos primeiros meses de aula conversou com os alunos sobre a importância de manter a sala limpa e de jogar o lixo na lata feita especialmente para ele, que ficava atrás da porta. Eu entendi o recado. Achava feio quando via um sujeito na rua jogando lixo pela janela do carro. A professora notou que os alunos estavam empenhados e resolveu partir para a fase II de seu projeto ambiental. Sugeriu que todos trousessem um vaso pequeno para plantar alguma coisa. Pegamos terra da horta do caseiro da escola e Mônica trouxe as sementes. Que alegria a minha. Felicidade maior foi acompanhar o crescimento daquelas plantas ou melhor, daquela Flora.

Todo dia pela manhã, o sol entrava pelas grandes janelas e alcançava a prateleira onde os vasos foram colocados. Pois é, esqueci de contar. O pai de um dos alunos, que era marceneiro, gostou tanto da ideia que até quis colaborar. Fez uma prateleira de madeira e pintou de bege. Ela ocupava a parede inteira do canto direito da sala.

Tá, tudo bem. Eu sei que contei essa história com uma pitada de nostalgia. Sabe o que acontece? Quando abro o jornal ou ligo a televisão sou bombardeada por notícias que mostram aqueles conceitos que "aprendi" nas aulas de Flora. Confesso que me dá medo. Apenas ter medo não resolve, não é mesmo? Eu acredito na educação. Não na educação que se apoia em leitura de livros didáticos e na elaboração de perguntas alienantes. Antes que vocês pensem: não, não quero acabar com os livros didáticos. Todos nós sabemos que o meio ambiente precisa das crianças e elas também precisam dele. Essas pobres criaturas não conseguirão agir sem sentir no dia-a-dia o quanto a sua preservação é vital. Torço para que os pequenos tenham a mesma sorte que eu tive: a de conhecerem pelo menos uma Mônica. É isso aí.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

voz

sentimentos, sensações e desejos percorrem o interior de um megafone. espalham-se no ar. como não encontram abrigo seguro, caem. um a um no mar.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Livro, Leve e Solto

Rachel Mejlachowicz nasceu em Brasília. Advogada atuante, quando criança acompanhava a mãe em visitas a ongs, associações e bazares. Cresceu próxima a outra realidade e aprendeu o quanto o mundo é ambíguo. Há o sol e a lua. O preto e branco e o colorido. A dor e a alegria. Riqueza e pobreza. Adulta, sentiu vontade de continuar ajudando pessoas que não percorreram o mesmo caminho que o seu. Conheceu Maria Fernanda Paes de Barros, arquiteta, e juntas criaram, em agosto de 2008, o projeto Livro, Leve e Solto. "O objetivo é estimular crianças que moram em abrigos a ler, estudar e descobrir o mundo dar artes", explica Rachel. Esse desejo se concretiza quando espaços de leitura são construídos. E neles, por meio da contação de história, entram meninos e meninas de contos de fadas, animais, e um universo rico em fantasia, imaginação e criatividade. Todos os lares são mantidos pela Associação Maria Helen Drexel, uma entidade sem fins lucrativos, criada em 1973. O Livro, Leve e Solto já conseuiu espaço em três dos oito lares da associação. O último foi inaugurado no dia 30 de maio, onde tive a oportunidade de contar histórias para doze crianças. A famosa A festa no céu, de Câmara Cascudo (lembrei que tenho um disco com a música sobre essa história), e Os passarinhos, que colhi como sugestão no livro Ofício do Contador de História, de Gislayne Avelar Matos e Inno Sorsy, foram as histórias que levei aos pequenos.
- Eu gosto de coelho
- Eu gosto de gato
- Gato é mais bonito, disseram, após ouvirem a primeira história.
- Vamos fazer chover aqui na sala?, perguntei.
Mostrei uma técnica de percussão corporal, uma deliciosa brincadeira, e todos acompanharam. E não é que fizemos chover!
- Gosto do coelho porque o rabo dele é uma bolinha, explicou um dos garotos, que desenhou o bichinho pra mim.
Patricia, turismóloga e malabarista, mostrou o valor do equilíbrio e da concentração. Sem deixar a peteca cair, ou melhor, as bolinhas e os bastões, agitou e desafiou as crianças.

terça-feira, 9 de junho de 2009

palavras

queria mergulhar nas palavras. assim como os peixes do fundo do oceano, que nadam e vivem a procura de alimento ou sobrevivência, algo dentro de mim diz que preciso inspirar letras e significados. um mergulho intenso, que me leve a conhecer o formato, o gosto e o cheiro daquilo que nomeia o que sentimentos, pensamos e fazemos. ser possuída, degustada por elas. me falta coragem, me sobra insegurança. eu me coloco à disposição de vocês, doces e tenebrosas palavras. me transportem para o seu universo. o coração e a mente numa disputa infiel de espaço nesta vida. ele quer a expressão. ela a certeza, a exatidão. tudo é ilusão, mas fico com a primeira, pois assim consigo sentir. o que me dói, o que me atrai, o que me dá medo. preenche e esvazia. só quero caminhar por aqui. e que o amor seja a minha razão.

sangue

você só vai ali, eu sei. nunca te disse, mas gosto do seu jeito. entre diferenças e intrigas planejadas, a gente descobre o quanto se gosta. manias. palavras. histórias que ficam. estampadas em cada parede. é bom te admirar. olhar para você e enchergar algo meu. algo nosso. de família. de trajetória. mas, você só vai ali. é uma ponte atravessada. outro dia tentei lembrar da primeira memória que tenho de você. uma fotografia na sala.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

cores

Hoje este espaço ganha uma nova e, ao mesmo tempo, já conhecida, identidade visual. Estou falando do jogo de lápis de cor aí embaixo. Gosto de cores e não tenho preconceito com nenhuma. Claro que há uma preferida, neste caso, o vermelho. Talvez por ser a cor que represente o afeto, o amor. Ou talvez por qualquer outro motivo que eu desconheça. Lápis de cor, arco-íris, guache, giz de cera, são coisas fascinantes. Além, é claro, das cores da natureza e das frutas. Recebi um e-mail de uma querida amiga, a Fernanda. "O colorido". Esse foi o título que ela escolheu para a mensagem. E nela, uma fotografia de lápis de cor com uma frase de Beethoven. "Não existe regra que não possa ser quebrada na busca da beleza". Não me atrevo a refletir sobre estas palavras aqui neste espaço. Penso que já existe muita opinião e frases jogadas sobre os mais diversos assuntos. A ideia de Beethoven está aí para quem quiser se aventurar. Boa viagem!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

a irônia se faz presente quando há demasiado azedo e cru, e ausência de tempero e essência.

segunda-feira, 9 de março de 2009

sem título


planejei contar tudo. explicar o que vi, o que senti. dizer quais são os significados. o que há de bom. todos os dias a saudade me veem. faz-me lembrar. mudou. mudaram. mudarão. deixei um pouco de mim e carrego o lá. trouxe algo que era meu. caminhar. movimentar o corpo. uma perna de cada vez. era preciso caminhar. o pouco para sobreviver, que é o muito para viver.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

aniversário


No dia 11 o Bocadinho de prosa completou um ano de vida. Antes de tirar férias, a ideia era fazer algo para comemorar esse aniversário. Fui viajar e não tive tempo para pensar no assunto. De qualquer forma, eu lembrei da data e fiquei satisfeita. O Bocadinho de prosa não é um sucesso, mas agradeço os poucos leitores que reservam alguns minutos para ler os meus textos e fazer comentários. Ele é um espaço muito especial para mim. É o meu cantinho. Nele escrevo e relato o que quiser. (Quando há), a pauta, a apuração, as fotos e a edição ficam por minha conta. Em 2006, criei o meu primeiro blog chamado Cronicando. Logo nas primeiras postagens alertei: “O mundo é grande demais”. Queria dizer que havia outras coisas que me chamariam a atenção. Um modo educado de dizer ao leitor, se é que existiria algum, de que eu não seria fiel na publicação de textos diários, semanais, mensais...E como podem imaginar, o blog teve vida curta. Publiquei três textos e o esqueci. O bocadinho surgiu num momento de vontade de experimentar. Sou perfeccionista e ele me ajudou a diminuir a dosagem de cobrança. Sempre que penso num texto, em seguida veem a censura. Resolvi acabar com isso e as palavras tomaram forma. Deixaram o ambiente imaginário para se concretizar aqui na web. Nos próximos dias, vou contar sobre o mochilão que fiz por algumas cidades da Europa. Eu queria ter conseguido escrever enquanto estava viajando, mas o tempo foi tão curto e não havia acesso à internet em todos os lugares que fiquei. Por isso, vou começar a escrever agora. Relembrar cada passo dessa jornada será uma maneira de me aproximar novamente de algo que deixou saudades. Aproveitando o assunto, compartilho uma foto com vocês: Plaza Mayor, en Madrid, España.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

raízes

Meu avô materno nasceu em Portugal, numa vila chamada Santa Leocádia, município de Tabuaço, pertencente ao distrito de Viseu. Chegou ao Brasil com 18 anos. Despediu-se dos pais. Nunca mais os encontrou. Teve três irmãos, um mora em São Paulo, o outro permanece em Viseu e a irmã mora na Suíça. Depois da partida, com exceção do irmão mais velho, meu avô só reencontrou o outro irmão uma vez, e a irmã, apenas por carta. A visita ao irmão que ainda mora em Viseu aconteceu em 1990. Eu tinha cinco anos e lembro-me de quando ele e a minha avó anunciaram que iriam viajar para a Europa. Até se aposentar, meu avô trabalhou como motorista e cobrador de ônibus da extinta CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), que deu lugar à SPTrans. Depois da aposentadoria, continuou trabalhando como taxista. Era europeu, mas não teve a oportunidade de conhecer as belezas do continente. Por isso, a viagem-presente, encheu-lhe de orgulho lusitano. Viajou pouco mais de um mês e, quando voltou ao Brasil, trouxe muita história, lembranças e mais saudade daqueles que ficaram. Minha avó também ficou encantada. Nascida no interior de São Paulo, foi criada num sítio entre galinhas, patos, horta e família grande. " Quando você crescer, vamos te levar para Portugal", dizia ela. A noção que eu tinha da Europa era de um lugar bonito e distante da minha casa. Eu sabia que aquela promessa era apenas uma intenção carinhosa. Eu queria muito viajar pra lá, mas ouvia aquela frase como "nós gostamos muito daquele país e gostaríamos de compartilhar com você". E isso já me dava um gostinho bom, de saudade daquilo que eu não conhecia. Pra mim, conhecer outro país sempre foi uma situação distante, assim como ganhar na loteria, por exemplo. Depois que terminei a faculdade, há dois anos, surgiu-me a idéia de poupar um trocado para quem sabe conhecer um lugar bem bacana. No próximo dia 13, deixo as minhas raízes daqui para absorver algumas raízes de lá. Durante o planejamento da viagem, Portugal quase fica de fora. Me conformei, mas no coração bateu uma sensação de traição. Poucos dias depois, consegui (poucos, mas válidos!) dias em Lisboa. Se meu avô ainda estivesse vivo, ficaria orgulhoso novamente. Minha avó ficou por ele.
As raízes nos fazem lembrar quem somos.