Avenida Paulista. Temperatura baixa. No vão livre de setenta e quatro metros do Museu de Arte de São Paulo, o Masp, inaugurado em 1968 com projeto da arquiteta Lina Bo, as turmas se dividem entre casais de namorados, adolescentes, senhores e solitários. O vento é forte. Cabelos bagunçados, mãos que não saem dos bolsos. E gritos. Perto da bilheteria do museu, fundado em 1947 pelo empresário Assis Chateaubriand, dezenas de crianças dão o tom naquela tarde. Festival de cores que vibram assim como a energia dos pequeninos. Um garoto com pele cor de casca de amendoim veste um gorro azul e branco. Ele sorri das brincadeiras dos companheiros, mas seus olhos não acompanham, parecem que estão em outro lugar. Mais pro final da fila indiana, três meninas brincam de pega-pega, o que lembra um cachorro correndo atrás do próprio rabo. O uniforme azul, branco e amarelo revela que são alunos de uma escola municipal em São Bernardo do Campo. São duas turmas com cerca de trinta alunos e três professoras. Antes de entrar no museu, uma delas, a de aparência mais velha, aponta o dedo indicador na cabeça de cada criança para certificar de que nenhuma desapareceu. Ao final, sorri satisfeita. Os pequenos formam outra fila em frente a um dos elevadores e seguem até o segundo andar, onde acontece a mostra "A natureza das coisas", uma das quatro exposições organizadas com o acervo do próprio museu. São setenta obras que apresentam paisagens e natureza-morta de artistas da Europa e da América desde o século 17 até os anos 80.
Dentre tantos quadros, um me impressionou ao ponto de que o guarda que estava sentado à direita me pedisse para afastar e permanecer atrás da linha branca. Para ser sincera, eu não tinha notado aquela marcação. Coloquei meus olhos em direção à tela, pois queria apreciar de perto aquela pintura. Chama-se "A cachoeira de Paulo Afonso"(acima), em Pernambuco, 1850, por E.F.Schute. Procuro referências do autor no site do Masp e o texto diz "não há certeza quanto à nacionalidade de Schute". Segundo o site, ele pode ter sido alemão, austríaco ou suíço.
Próximo a essa belíssima obra, os estudantes estão sentados no chão e são incentivados a pensar por um instrutor do local. Alto, careca, óculos com grau, o homem dispara algumas perguntas:
- o que vocês estão vendo nesse quadro?
- vocês colocariam na casa de vocês?
- do que ele é feito?
Me coloquei ao lado dos alunos. Aquela abordagem me interessou. Imaginei, nos dias de hoje, o quanto não deve ser difícil atrair a atenção dessas crianças. Estimuladas por jogos eletrônicos e interativos, o que seria capaz de fazê-las parar?
E, de fato, o homem teve dificuldades. Uma ou duas crianças responderam. As outras nem sequer prestaram atenção. Brincavam com os coleguinhas ou olhavam para todos os lados. Bom, não deve ser fácil analisar um quadro do século passado. Acho que tudo que elas mais queriam era correr por aquele espaço vazio entre as telas. O que também não deixa de ser divertido.
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