Há alguns anos, quando comecei a ler sobre yoga e dança contemporânea, o tema que dá título a esse texto me foi apresentado. Encontrei-o em alguma publicação ou apresentação de curso relacionado à dança. Ah, e como eu tinha medo de participar de uma aula dessas! Na verdade, existia mais uma sensação que envolvia a tal da presença corporal. Era a curiosidade. Vontade de conhecer, com medo do desconhecido. Resumindo, um sentimento que quase 100% das pessoas têm, vamos ser sinceros. O medo é o que nos firma numa situação de segurança ilusória, isso sim.
Com a prática da yoga, esse receio foi transformando-se em neblina. Você está dirigindo na serra e a neblina surge. Você deixa de enchergar o seu trajeto, mas logo ela se dissolve. Por meio da famosa e divulgada filosofia milenar, me soltei e permiti que meu corpo se ampliasse. Sem vergonha nem julgamento.
Assim, no último sábado de setembro, quando Andréa Egydio, mestre em artes cênicas pela USP, anunciou que o tema daquela aula do curso de contadores de história seria a dita cuja, fiquei tranqüila. Nas primeiras duas horas, Andréa pediu para que prestássemos atenção na respiração. Sentir o ar entrando e saindo dos pulmões. Observar a posição da coluna.
O próximo exercício foi tão relaxante que quase dormi em pé. Organizou-se duas filas indianas e tivemos que reparar no andar do colega da frente. Aí fazíamos o seguinte: inspira, expira, anda meio passo. "Serão apenas cinco minutos, mas vocês vão achar que foi uma eternidade", alertou a professora. O ato de reparar no ar que entra e sai acalma os sentidos.
Depois, fizemos duplas e ficamos cara a cara com o amigo. Nessa hora eu pensei que ela fosse fazer a brincadeira do quem ri primeiro. Boba eu, né? E já ameacei a rir. Mas não foi isso, não. Era para repararmos no corpo do outro e encontrar qual região ainda estava tensa, rígida.
Durante a pausa para o café, fiquei me perguntando de que forma iríamos aplicar esses conceitos na hora de contar uma história. Eu não vi muita coisa. E foi bom, pois me surpreendi. Todos sentaram no chão, em formato de platéia e, alguns voluntários ficaram em pé, um por vez. Justamente para mostrar o momento da chegada de um contador de história.
A maioria dos cobaias ficou tenso. Corpo duro, olhos sérios, lábios cerrados. Se eu tivesse sido chamada para estar lá, também ficaria dessa forma. Não é nada fácil. Conforme a professora passava as instruções do tipo "relaxa, respira", eles foram se soltando. "É na chegada que você dá o tom da sua apresentação. Você pode cativar ou não o seu público", explicou Andréa.
Com essa demonstração, comecei a entender em que lugar entra a respiração. É literalmente a presença corporal. Ou seja, estar presente ali com seu corpo e suas intenções. Por exemplo, você estende o braço e sente de fato essa estensão. "O importante aqui é a qualidade do gesto e não a quantidade. De que adianta mexer o corpo inteiro, sem estar presente, sem receber um retorno da platéia?", questionou.
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