terça-feira, 29 de julho de 2008

acendeu duas velas no quarto escuro. o palito vacilou. sua cabeça se pôs em dúvida. era sua última esperança. a chama amarela daquelas velas - compradas na igreja onde assiste missas aos domingos - se tornou uma possiblidade de contato com o divino. de crer numa intervenção vinda do céu. enquanto queimam, ela reza. e imagina que no momento em que a cera da vela se derreter por inteira, sua aflição vá com ela.

terça-feira, 22 de julho de 2008

avó

deo colônia fragrância flor do campo
essência que se espalha
se dilui pela vida afora
cheiro de velhice

de banho tomado em banheiro
de azulejo cor de rosa
toalha do bazar da igreja
sabonete alecrim

pele cor caramelo
com marcas do tempo
com veias azuis
e pés inchados

corpo com odor próprio
de avó mesmo
inconfundível
único

quarta-feira, 16 de julho de 2008

interpretação

silêncio com vida à espera de um movimento. um sinal. olhos atentos em cada atitude que está para acontecer. carregam estórias inventadas, imaginadas, vividas. precisam transformar tudo em expressões, diálogos, risos, espantos, dúvidas e em muitas outras situações humanas. ingerem os anseios, os sentimentos e os desejos do personagem. internamente. uma mistura do real e da ficção. o que é meu e o que é do personagem? não há uma separação muito linear. é aí que está o grande truque. se esparramam no palco. ficam nus.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

o outro

eu não enxergo com seus olhos. nem penso como você. posso apenas te mostrar um caminho. mas ele não é o único. pense. mergulhe em suas emoções. resgate o que há de mais sincero. sofra. sinta o gosto da dor. masoquista? talvez. não tenho certeza. você a tem? bem-vinda ao mundo real.