Há dois dias penso em te escrever. Pego a caneta, aquela de tinta azul de sempre, um papel solto pela casa e sento. Me aconchego na poltrona vermelha que você adora. Tomo meu café e enquanto o líquido desce suavemente e quente pela minha garganta (cansada por não conseguir gritar), penso em como te escrever. Palavras soltas, idéias perdidas, lembranças que apertam o peito. Tudo me chega. Mas não tenho conseguido jogar com esse quebra-cabeça. As cartas mudaram, eu me perco e canso da brincadeira. Sim, eu sei que já joguei outras vezes. Mas lhe peço desculpas por nesse momento não te dar o que você merece, o que você espera. A vida é assim mesmo. A cada dia sinto que ela se parece muito com o mar. O dia da calmaria, onde tudo corre bem, tranqüilo. Pra quê mudar, não é mesmo? Mas quando o mar se aperreia, é melhor correr porque aí vem a tempestade. Semana passada comprei uma colcha de retalhos. Para embelezar a nossa cama e te ajudar a pensar sobre as cores na vida da gente. Imagina se tudo fosse branco e preto? Ainda bem que podemos conhecer o amarelo, o azul, o verde, o laranja, o vermelho...Me despeço e, já que não consigo te escrever, deixo algumas palavras de Mário de Andrade.
"(...) mas eu só queria saber neste mundo misturado quem concorda consigo mesmo! Somos misturas incompletas, assustadoras incoerências, metades, três-quartos e quando muito nove-décimos (...)"
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