segunda-feira, 26 de maio de 2008

neguinho

quente, frio, amargo.
doce, sem personalidade.
te esperei por tanto tempo
que saudades do calor

que só você me dá.
do conforto que sinto
quando estou contigo.
venha logo, venha.

meu pretinho mais gostoso
uma revista, um livro,
um dia ensolarado
num canto qualquer.

te saboreio sem dó de ti
te experimento todos os dias
com o prazer de sempre
meu neguinho cheiroso.

a tarde

o corpo fala
sua voz é a expressão
dos músculos, dos ossos
da derme, epiderme e células

vivas em teu ser
um pulsar da alma
a resposta mais sincera para
quem é você?

sou um corpo que balbucia
palavras de vida, de vontade
de viver e ser assim...
no meio da multidão.

um fá, um ré, um sol
talvez um si ou um lá.
não importa. os sentidos
acordam, ficam despertos.

o braço desliza, as pernas
de um lado para o outro.
o movimento anterior não será
repetido da próxima vez.

manual de instruções dirá:
pegue o que está sentindo
agora e expresse.
não julgue, não. Apenas você.

um desenho, um rabisco com
canetinha da pré-escola.
uma palavra, uma história
com quinhentas páginas.

um gesto, uma atitude,
uma opinião. e solte.
solte tudo ao vento.
um sopro. sopro de vida.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

pão doce

doce por suas palavras
por seus gestos e
seu coração. Doçura,
por suas mão sujas.

por seu silêncio acolhedor.
não entendia de economia, geografia e
tão pouco de negócios.
compreendia, sim, o ser humano.

humildade registrada em sua identidade,
olhar de criança sapeca
querendo brincar e sentir
a beleza da vida.

em dia de festa
se enfeitava todo para receber
seus amores e ser amado.
barba feita, água nos cabelos e sapato lustrado.

não sorria com os dentes,
sorria com todo o corpo.
com os braços, os olhos e
com seu grande coração.

coração maior nunca vi.
até na hora do adeus
quis poupar a tristeza
daqueles que amou.

eu não te vejo,
me esquece, me deixa,
para eu poder te esquecer
e te amar para sempre.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

conversa

pega tua mão.
o corpo espera por ela.
compaixão, em forma de
desejo, que lhe chama.

dois segundos, apenas.
o suficiente para tua alma
pecadora, que derrama
lágrimas no teu peito.

o retorno para casa.
sabes o que sente e
porque ages assim.
lenta, respira. seco, olhos, seco.

primogênito

os pratos se quebram,
o chão, esperançoso, recebe os cacos.
impressões mal interpretadas
ou, apenas, o tempo.

a rosa sempre teve espinhos e
o mundo tem os dois lados.
onipresença. Deus, será?
tudo é quente e frio.

a estrada com buracos é longa
bodhi, possível, há de surgir,
de ficar, adormecer, esparramar e
molhar o caule do amanhã.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

sem título

Se o mundo parasse por alguns minutos, você voltaria a fazer (ser) o que estava fazendo (sendo) antes dele parar?

segunda-feira, 5 de maio de 2008

canção vespertinha


Valsinha
Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz