Moro no centro há quase três anos. Os outros vinte anos da minha existência foram vividos na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo. Bairro acolhedor, festeiro e cheio de história. Minha família inteira sempre morou por lá. E os amigos, feitos pelo bairro, estão lá até hoje. Minha rua era tranqüila. Todos os dias, ao abrir a janela, me deparava com as enormes seringueiras que davam vida aquele pedaço de terra. Na verdade, a minha rua eram duas. Tinha a rua de cima e a rua de baixo. Eu morava na rua de baixo, mas conseguia ver a rua de cima. Aliás, a rua de cima era muito mais movimentada. Pois era o caminho mais rápido para chegar nas outras ruas do bairro. Nessa rua de cima existe uma valeta bem no meio. Com freqüência ouvia o barulho dos carros que por ali passavam e não reduziam a velocidade. Quando criança, reparava no jeito que meu pai passava por ela. Reduzia a marcha e ia pelo canto direito, bem devagar. Mesmo com esse truque, muitas vezes a carcaça do automóvel pegava o asfalto. Quando isso acontecia, sentia como se estivesse pisando no chão. Não sei se era uma coisa normal de se sentir ou era o carro do meu pai que precisava de conserto. Imaginava também que quando eu aprendesse a dirigir, ia fazer igual ao meu pai, pra não machucar o carro. Próxima a valeta mas, um pouco a frente, morava um casal de senhores, bem velhinhos. Depois do almoço, o senhor sentava-se embaixo de uma das seringueiras, em uma cadeira de praia daqueles modelos mais antigos com o encosto até metade das costas. A cadeira era vermelha e branca. Não sei calcular o tempo que ele permanecia ali, mas na minha impressão de criança ficava por uma hora ou mais. Sentado, apenas observando o movimento da rua de baixo, a minha. Ele ficava de costas para a sua casa e para os carros. Acho que preferia a minha rua, pois ali passavam cachorros, gatos, crianças e outros senhores como ele. Algumas vezes por ano acordava com o barulho de uma serra elétrica. Cerca de quatro homens podavam as árvores. Assim eu conseguia ver a rua de cima inteira. Todas as casas, as pessoas que circulavam, os carros, as bicicletas. E ficava imaginando, "quem pediu para fazer isso nas árvores?". Naquela época eu nem tinha noção do que era Subprefeitura, Prefeitura, etc. Não tinha noção de muitas coisas. E vivia mesmo assim.
Amiga, hoje parei um pouquinho para fixar os olhos no teu Blog. Muito bom quando a gente não sabe de nada e percebe, que mesmo assim, continua vivendo. Nénão?!
2 comentários:
Amiga, hoje parei um pouquinho para fixar os olhos no teu Blog. Muito bom quando a gente não sabe de nada e percebe, que mesmo assim, continua vivendo. Nénão?!
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