Se eu não enjoasse no carro, teria começado a escrever este texto dentro no uber mesmo, tamanha força com que as palavras têm insistido em sair. Como quem chega em casa com vontade de fazer xixi e sai correndo em direção ao banheiro, eu sai correndo para pegar o caderno, a caneta, e dar vida aos pensamentos.
Durante o trajeto até em casa, tive que "segurar" as palavras. Não sei exatamente como fiz isso e como esse ato se processou internamente. Figuradamente é como se as palavras estivessem dentro de um quarto, localizado no sótão, e eu me posicionasse atrás da porta, segurando-as com o corpo, numa brincadeira de pega-pega. Fiz isso pelo medo de perdê-las.
Ao sair desse lugar, é como se uma avalanche descesse a escada: solta, veloz, totalmente sem controle. Ultimamente o ato de escrever tem se materializado dessa forma.
O que mudou?
A autocrítica e a censura.
É claro que elas ainda existem dentro de mim. Converso com as duas todos os dias, mais de uma vez por dia até. A diferença é que agora elas não me dominam mais. Deixar a vida nas mãos dessas duas bruxinhas é assinar a carta da morte. Um tanto dramático, eu sei, porém real.
Com elas, nada se cria
Sem elas, tudo é possível
Com elas, a prisão do pensamento e da expressão
Sem elas, o salto no abismo
Com elas, a ilusão do caminho iluminado
Sem elas, a escuridão que leva ao redescobrir do mundo e do "eu"
quarta-feira, 10 de maio de 2017
segunda-feira, 8 de maio de 2017
essa roupa não me serve mais
Era a roupa mais bonita da vitrine. Cheia de brilho e vida, ela seduzia quando passávamos por ela. Vesti.
No começo pareceu-me desconfortável, mas com um ajuste aqui e outro ali foi possível vesti-la por anos e anos.
- Quando ela deixou de servir? Pergunto-me
(Diálogos internos presentes desde sempre)
Faz um bom tempo, na verdade.
Mas, por ela já ter me deixado feliz e me feito "brilhar" algumas vezes, fui me adaptando.
Rasgou? Costura
Sujou? Lava
Amassou? Passa
Desbotou? Tinge
Encolheu? Adapta
Todos esses "defeitos" foram possíveis de conserto. Só tem um que não: olhar no espelho e perceber que com essa roupa você virou um personagem, cujo ensaio é desgastante. Decorar as falas é cada dia mais cansativo.
É preciso despir o personagem.
Essa roupa não me serve mais.
No começo pareceu-me desconfortável, mas com um ajuste aqui e outro ali foi possível vesti-la por anos e anos.
- Quando ela deixou de servir? Pergunto-me
(Diálogos internos presentes desde sempre)
Faz um bom tempo, na verdade.
Mas, por ela já ter me deixado feliz e me feito "brilhar" algumas vezes, fui me adaptando.
Rasgou? Costura
Sujou? Lava
Amassou? Passa
Desbotou? Tinge
Encolheu? Adapta
Todos esses "defeitos" foram possíveis de conserto. Só tem um que não: olhar no espelho e perceber que com essa roupa você virou um personagem, cujo ensaio é desgastante. Decorar as falas é cada dia mais cansativo.
É preciso despir o personagem.
Essa roupa não me serve mais.
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