quinta-feira, 14 de agosto de 2008

baú

"Quem vive de passado é museu". Depois de ouvir algumas pessoas dizerem isso, já pensei que posso me considerar um. Não que eu vivo, no sentido literal do verbo, o passado. Mas, confesso que aprecio uma boa lembrança. Sou pega de surpresa e ela surge, muitas vezes, quando estou andando ou dentro do ônibus. Não seguro o riso. Me deixo levar. Sou feita de refém. Ela se aproxima e sussura baixinho:
- Você lembra quando...? Lembra?
Pronto. É só dizer isso que as imagens tomam conta do meu pensamento. Ultimamente, ela tem inovado e me traz até cheiro. É mole? E não pense que é aquele cheiro que vai embora rápido. O danado insiste em permanecer ali. Parado. Estático. Só vai embora quando eu lhe peço gentilmente:
- Senhor cheiro, agora eu preciso comer, você me dá licença?
- Claro, senhorita. Volto amanhã. Inté.
E tem também em forma "de gosto". Aí é golpe baixo. Se estou com fome, fica ainda mais difícil. Nessa semana, a memória me veio assim. Um dia comum. Acordei, resolvi algumas coisas, almocei com um amigo, fui trabalhar e na hora no bandejão ele veio.
- Abobrinha, cenoura, batata em forma de sopa, não é uma delícia?
Quando percebi já estava em outro lugar. Agora mesmo, acabou de acontecer de novo. Impulsionada a escrever uma crônica sobre meio ambiente, eis que surge. Conversamos bastante e fiz um acordo.
Propus o seguinte: "memória, querida! (um agrado para não pensar que a estou desprezando). Podemos nos encontrar, mas não posso lhe dar tanta atenção. Você me entende? O presente está chateado comigo. Já reivindicou o seu espaço. Acho que ele está no direito dele. Hoje mesmo irei apresentá-los, quem sabe vocês não se entendem melhor".